Por CEUCI – Centro de Estudos sobre a Urbanização para o Conhecimento e a Inovação
O conceito de territórios do conhecimento de quarta geração (TC4) vem sendo desenvolvido pelo CEUCI a partir de uma combinação dos conceitos de parques tecnológicos e distritos de inovação com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e a Nova Agenda Urbana, adaptados à realidade brasileira. Do ponto de vista da configuração espacial, o termo território do conhecimento pode incluir tantos parques tecnológicos, distritos de inovação e campi universitários, como uma série de outros arranjos, como redes de equipamentos de produção do conhecimento (incluindo universidades, incubadoras, centros de pesquisa e inovação, etc.) distribuídos por uma cidade ou região, que operam em conjunto, mesmo não ocupando um território contíguo.
Enquanto os parques tecnológicos de primeira e segunda geração eram espaços para uso exclusivo de empresas, universidades e centros de pesquisas, os parques de terceira geração se mesclam ao tecido urbano, com uso misto e muitas vezes associados à revitalização urbana (Annerstedt, 2006), sendo também descritos como distritos de inovação. Eles almejavam elevar a competitividade econômica da cidade por meio da criação de um ambiente de inovação diverso e qualificado (Katz e Wagner, 2014). O conceito de desenvolvimento urbano orientado pelo conhecimento (knowledge-based urban development ou KBUD) incorpora as questões de sustentabilidade a esses desses distritos (Yigitcanlar, 2011). Contudo, todos esses conceitos foram idealizados em países desenvolvidos, não sendo necessariamente adequados à realidade brasileira de extrema desigualdade socioeconômica.
Os TC4 possuem como característica comum a incorporação de fortes diretrizes de sustentabilidade urbana e sócio-ambiental tanto na gestão do território como na orientação de negócios de suas empresas, startups, coletivos, cooperativas e outros tipos de organizações. Ao seguir essas premissas, procura-se garantir que esses territórios não apenas evitem consequências negativas para a sociedade, para a cidade e para o meio ambiente, mas que também contribuam efetivamente para um futuro promissor e saudável. Alguns exemplos de organizações que poderiam fazer parte de um TC4 são: companhias de energia limpa ou de baixo carbono, empresas especializadas em soluções baseadas na natureza ou na adaptação das cidades às mudanças climáticas, consultorias ligadas à gestão de resíduos e à economia circular, startups de economia solidária e de inovação social, coletivos de fomento à diversidade nas instituições, cooperativas voltadas à inclusão digital de pequenos agricultores, entre outras. Os TC4 possuem especial cuidado com áreas de mata nativa, de nascentes, corregos e corredores ecológicos, e procuram integrar agricultores locais, povos originários e seus conhecimentos ancestrais, valorizando a cultura e o patrimônio ambiental, paisagístico, arqueológico e arquitetônico, por meio de processos participativos e de políticas afirmativas.
A visão dos TC4 baseia-se na abordagem da quíntupla hélice (Carayannis, 2012), que integra governo, academia, empresas, sociedade civil e meio ambiente, dando aos territórios do conhecimento uma perspectiva de inovação aberta e colaborativa, essencial para o desenvolvimento de tecnologias de impacto socioambiental positivo. Esse modelo destaca a participação ativa da sociedade civil como um eixo central na formulação de prioridades e desafios territoriais, promovendo inovações que respondam às necessidades locais e ampliem o escopo das práticas sustentáveis e inclusivas. A interação entre esses cinco agentes fortalece a relevância dos TC4 como ambientes de inovação que transcendem o desenvolvimento econômico, proporcionando benefícios sociais e ambientais de longo prazo. Ao colaborar como co-criadora nos processos de inovação abertos, a sociedade civil contribui com perspectivas únicas e fundamentais para garantir que o desenvolvimento tecnológico incorpore princípios de justiça social e equidade. Sua atuação é essencial para promover o acesso a soluções voltadas à mitigação de crises ambientais e desigualdades, como laboratórios vivos onde a inovação é direcionada à resiliência urbana e à melhoria efetiva da qualidade de vida, em consonância com os ODS.
A vitalidade urbana nesses espaços se manifesta por meio de quatro elementos fundamentais: concentração, acessibilidade, habitabilidade e diversidade. Imaginem ruas movimentadas onde estudantes, pesquisadores, empreendedores e moradores locais se encontram casualmente em espaços públicos, cafés,hortas urbanas e oficinas compartilhadas. Essa densidade de interações humanas é resultado de um planejamento urbano que prioriza a qualidade de vida e a serendipidade. A vitalidade emerge da combinação entre pessoas, espaços e suas conexões. E não é apenas um benefício adicional – é condição fundamental para atrair e reter talentos e para que a inovação aconteça.
Finalmente, a criação dos TC4 passa também pela definição de parâmetros legais de urbanização que considerem, além das questões de sustentabilidade socioambiental, a qualificação das áreas públicas, as conexões com o entorno e com a cidade, bem como o monitoramento e a gestão conjunta desses espaços entre poder público, universidades, centros de pesquisas, empresas e sociedade.
Referências
- YIGITCANLAR, Tan. et al. Position paper: redefining knowledge-based urban development. International Journal Of Knowledge-Based Development, v. 2, n. 4, p. 340, 2011. Inderscience Publishers. http://dx.doi.org/10.1504/ijkbd.2011.044343.
- ANNERSTEDT, J. Science Parks and High-Tech Clustering. In: Bianchi, P.; Labory, S.. International Handbook on Industrial Policy. Edward Elgar Publishing, 2006, p.279-297.
- KATZ, B.; WAGNER, J.. The Rise of Innovation Districts: A New Geography of Innovation in America. (White paper) Brooking, 2014. Disponível em: https://www.brookings.edu/articles/rise-of-innovation-districts/. Acesso em: 1/11/2024.
- CARAYANNIS, Elias G et al. The Quintuple Helix innovation model: global warming as a challenge and driver for innovation. Journal Of Innovation And Entrepreneurship, [s.l.], v. 1, n. 1, p. 2-12, 2012. Springer Science and Business Media LLC. http://dx.doi.org/10.1186/2192-5372-1-2.
Comments are closed